quarta-feira, 5 de maio de 2010

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História da Habitação

O poder local e habitação popular

Protótipo de habitação

Reportagem que saiu na folha sobre as favelas

BERNARDO SECCHI

Ideia de acabar com as favelas foi uma ilusão modernista
Urbanista italiano visitou a favela de Paraisópolis e diz não achar possível transformá-la em um bairro normal

MARIO CESAR CARVALHO
VINICIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL


As favelas se tornaram um fenômeno tão onipresente que é impossível acabar com elas. “Não temos tempo, meios nem dinheiro para fazer isso”, disse à Folha o italiano Bernardo Secchi, 75, um dos urbanistas mais renomados do mundo.
Secchi é um dos dez urbanistas convidados pelo presidente francês Nicolas Sarkozy para pensar a Paris de 2030. Fez também planos para Madri, Roma e Londres.
A ideia de acabar com as favelas foi uma ilusão modernista, segundo ele. “Temos de partir da cidade que existia antes da modernidade, quando as cidades eram mais diversificadas”, explicou numa conferência em São Paulo para 450 pessoas, na semana passada.
A convite da Prefeitura de São Paulo, Secchi visitou a favela de Paraisópolis, alvo de um plano de urbanização e de construção de moradias que envolve sete arquitetos. Elogiou o projeto, mas criticou os prédios públicos (pela falta de “majestade”, qualidade essencial a esse tipo de construção).
Outro problema de Paraisópolis e das favelas brasileiras, segundo ele, é similar aos encontrados na periferia de Paris -elas ficam isoladas da cidade.

FAVELAS

Estimativas de 2003 mostram que 1 bilhão de pessoas no mundo estejam morando em favelas. Hoje são muito mais. Não há programas sociais que possam mudar essa situação. Visitei Paraisópolis e fiquei chocado porque estão fazendo muitos projetos que estão avançando na hipótese de que essa favela possa se transformar em um bairro normal, moderno. Acho que não é possível. Não temos dinheiro, meios nem tempo para fazer isso.

ESPAÇO PÚBLICO

Em todo lugar do mundo a experiência mostra que, melhorando os espaços públicos, as coisas mudam. O que vi hoje é importante, como escolas, creches e esportes. Aquelas pessoas não são tão pobres assim. Se os ajudarmos a melhorar a situação em que vivem, elas conseguem. A arquitetura tem de fazer algumas sugestões claras, mas, se quisermos mudar radicalmente todas as favelas, não teremos sucesso.

BRASÍLIA

É um dos projetos mais importantes do século 20. A utopia é típica da cultura ocidental, é a capacidade de imaginar o futuro. Depois da Segunda Guerra, ninguém na Europa era capaz de produzir pensamentos utópicos. Só os países que alcançavam a liberdade, como o Brasil e a Índia, tiveram a capacidade de pensar utopicamente. A ideia de repetir os ministérios e culminar na praça é a afirmação do poder do Estado.

BRASÍLIA NO FUTURO

Uma cidade precisa de muitos anos para se tornar real. Siena, Roma, Milão têm séculos. Brasília pode ser tornar isso um dia. No futuro, será uma cidade diferente. As pessoas usam os espaços e os modificam.

CRACOLÂNDIA

Isso ocorre em todos os lugares. Em Dublin [Irlanda], no final do século 19, o equivalente à palavra favela surgiu para designar uma dessas áreas abandonadas. Trabalhei em Antuérpia [Bélgica], que tem regiões maravilhosas abandonadas. Conseguimos recuperá-las, mas não só com biblioteca ou centros culturais. Depois de Bilbao, com o museu Guggenheim, todos achavam, sobretudo no mundo político, que seria suficiente colocar um museu para melhorar uma região. E isso não é verdade. Não temos dinheiro para transformar tudo. Temos de resolvê-los passo a passo. Em Antuérpia, há muitos jovens que querem morar no centro. E precisam ser livres para organizar suas moradias do jeito que querem. Com os jovens e famílias que foram ao centro de Antuérpia, o movimento mudou. E outras pessoas viram que, se eles podiam fazer, elas também podiam.

PARIS DO FUTURO

Fui escolhido por Sarkozy [para pensar o urbanismo de Paris de 2030]. Um modelo perfeito não existe, mas há maneiras de melhorar a situação. O maior problema da Grande Paris está nos subúrbios. Paris tem 12 milhões de pessoas, a maioria vivendo fora da cidade. Fui morar nos “banlieues” para ter a experiência. As pessoas que moram lá têm suas referências do que é relevante para elas, o que não é uma mesquita, uma catedral, um monumento, pode ser um mercado.

BARREIRAS DE PARIS

As áreas em que os pobres moram em Paris estão sempre encravadas e é impossível entrar nelas e sair de lá. São barreiras. Descobri que o deslocamento era o maior problema. Os espaços verdes não são usados para aumentar a sociabilidade, mas para separar. Há uma tensão social por lá. Então propus um projeto que modificava a estrutura da Grande Paris para que todos pudessem ir ao centro da cidade. Não é a hora de colocar um grande arquiteto em Paris. É hora de construir um suporte, como Lúcio Costa fez em Brasília.

PROBLEMA SOCIAL

Os moradores dos “banlieues” são imigrantes ou filhos de imigrantes. Muitos não se sentem franceses, e os próprios franceses não os veem assim. É um problema social. Não dá para resolver todos os problemas com soluções da arquitetura ou do urbanismo. É preciso políticas sociais, como os modernistas acreditavam. O urbanismo e a arquitetura podem acompanhar políticas sociais. Precisamos de macropolíticas e não só uma política isolada. O que mais ouvimos dos jovens é que procuram emprego, conseguem a vaga e, quando dizem que moram nos distritos distantes, são recusados.

O projeto final (quase final)

O projeto partiu de um ideal de ser ter mais áreas que se interpelem possiveis. Isso é, sem portas e divisórias que dividissem a casa, segregando o espaço por funções. Habitar é conviver, é trocar, é estar sozinho quando preciso, é trabalhar, dormir, cozinhar, comer, ver tv.. e a casa deve atender com qualidade a todas essas ações.

A parte mais privada da casa, que são os quartos e o banheiro, eu fechei em um módulo único, que seria o componente fechado do projeto. Enquanto todo o resto da casa poderia se abrir para o exterior.

Estudos:

Os estudos mostram em planta, o primeiro, e em corte, o segundo, as áreas de circulação (em rosa), serviço (amarelo) e estar/lazer (azul), além disso, os quartos e banheiro (vermelho).




A planta, em verdes os quartos, o unico lugar da casa onde o piso é diferente. A intenção é que o piso crie um harmonia, que integre o que é exterior com o que é interior e que até confunda.

As portas camarão que servem de fechamento, permitem que a sala se comunique com a parte da frente da casa. elas se abrem criando um espaço que serve a novos usos. a intenção é que os móveis como mesas e
sofás sejam escamoteáveis, de modo que a liberação do espaço seja a maior possível.

O corredor que liga os quarto é coberto por brise, que pode ser aberto ou fechado de acordo com o tempo. as paredes se abrem, o que melhora a iluminação e ventilação, além de dar luz a um novo lugar.

A parede externa é feita de material vazado na área que liga a cozinha à entrada.

Nos quartos, as camas e mesas também são escamoteáveis, possibilitando diferentes usos de acordo com a hora do dia.







O módulo dos dormitórios pode ser duplicado, permitindo uma ampliação da casa em um segundo andar, aumentando o espaço para três quartos e dois banheiros. Com um espaço que sobra que ainda serve de varanda.